quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Casa Fernando Pessoa coberta com ode de Ricardo Reis

A Casa Fernando Pessoa (CFP), em Lisboa, inaugura hoje a exposição Casa-Poema, que cobre com variações de uma ode de Ricardo Reis geradas informaticamente a fachada e as paredes da última casa onde o poeta viveu.
“A ideia desta exposição nasceu de uma conversa com o Richard Zenith (tradutor da obra de Fernando Pessoa para inglês). Estávamos a falar sobre o infinito dos textos de Pessoa, o facto de ele ter deixado manuscritos com várias versões, e o Richard disse que há, por exemplo, uma ode de Ricardo Reis que tem tantas variantes que daria inúmeros poemas e que seria interessante criar um programa matemático, enfiar lá o poema com as variantes, ver quantos poemas nasciam daquele único poema e fazer uma exposição com isso”, disse hoje à Lusa a escritora Inês Pedrosa, directora da CFP.
A intenção era - explicou - “dar a ver a multiplicidade de textos que um só texto de Pessoa contém, ou seja, de certa maneira, o facto de que Pessoa pode continuar a escrever poemas mesmo já não existindo, uma vez que os seus poemas têm outros poemas dentro”.
Depois de encontrarem um especialista informático que fizesse o tal programa, o resultado foram cerca de 30.000 poemas (28.224, mais precisamente) e a noção de que “a exposição total seria também ela impossível”.
“A ideia era transformar toda a casa nesse poema e pareceu-me que era bonito começar a leitura da casa pela fachada”, observou Inês Pedrosa.
A vermelho, preto ou cinzento, esta é uma das variantes da ode de Ricardo Reis que pode ser lida pelos visitantes da Casa Fernando Pessoa: “Pesa a sentença atroz do algoz ignoto/ Em cada cerviz néscia. É entrudo e riem,/ Felizes, porque neles pensa e sente/ A vida, que não eles./ De rosas, inda que de falsas, teçam/ Capelas veras. Breve e vão é o tempo/ Que lhes é dado, e por misericórdia/ Breve nem vão sentido./ Se a ciência é vida, sábio é só o néscio./ Quão pouco diferença a mente interna/ Do homem da dos brutos! Sus! Deixai/ Brincar os moribundos!”.
A Casa-Poema estará patente pelo menos até Dezembro, de segunda-feira a sábado, no número 16 da Rua Coelho da Rocha, cuja fachada estará a partir de hoje à noite iluminada.
Lusa/AO Online