Em 2009, a Casa Fernando Pessoa abre as portas aos heterónimos. Até Abril, o fotógrafo Jorge Colombo revisita Lisboa na pele de Álvaro de Campos. Por Catarina Mendonça Ferreira. Se Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, passeasse hoje pelas ruas de Lisboa, o que mais o surpreenderia seria “o tamanho das coisas – maiores estradas, museus, estações de metro, lojas... maiores ideias”. Quem o diz é Jorge Colombo, fotógrafo, ilustrador e realizador, agora convidado pela Casa Fernando Pessoa para fazer uma exposição em torno do universo de Álvaro de Campos.
Esta será apenas a primeira de muitas outras exposições que vão acontecer ao longo do ano. Em 2009, a Casa Fernando Pessoa transformar-se-á na Casa Álvaro de Campos (de Janeiro a Abril), na Casa Alberto Caeiro (de Maio a Agosto) e na Casa Ricardo Reis (de Setembro a Dezembro). Cada um destes heterónimos de Fernando Pessoa será homenageado com uma série de exposições e eventos em torno das suas obras e personalidades.
“Desafiámos Jorge Colombo, inocente e perverso criador de imagens, leitor apaixonado do mais visual e visionário heterónimo de Pessoa, a que revisitasse a Lisboa inventada pelo poeta engenheiro – uma Lisboa anti-típica, anti-turística, a cidade arquétipo de todas as cidades passadas e futuras”, escreve Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, a propósito desta exposição.
“Mais do que imaginar Álvaro de Campos ressuscitado na década zero do século XXI, Colombo ousou entrar nessa dimensão atemporal que era e é a de Campos para criar o poema visual da cidade absoluta, anónima e íntima, em imortal combustão.”
Mas se pensa que esta é apenas mais uma exposição sobre Fernando Pessoa, engana-se. Jorge Colombo fez questão que não fosse e por isso inspirou-se. “O que não quis foi espremer ainda mais a iconografia clássica – Baixa em sépia, poeta de chapéu, arcadas do Martinho –, porque o Pessoa continua demasiado vivo para caber em imagens de arquivo.” Desta viagem ao universo de Álvaro de Campos – em que a “Ode Triunfal” de 1914 foi o mote directo, e cuja excitação Colombo tentou recriar, concentrando-se em aspectos contemporâneos de indústria, comércio, urbanismo, transportes –, resultaram 52 fotografias tiradas em Lisboa e arredores nos fins de 2008. “Passei imenso tempo em centros comerciais: grande parte da vida moderna portuguesa centra-se neles, são incontornáveis.”
Para Jorge Colombo, não foi difícil escolher o heterónimo Álvaro de Campos para trabalhar. “O nosso comum expatriamento (eu nos EUA há 20 anos, ele na Escócia e etc.) facilita paralelismos. Posso manter muitos contactos e fazer muita coisa na pátria, mas do desenraizamento já ninguém me livra. E os poemas do Campos falam muito disso”, conta o fotógrafo.
A viver há 20 anos em Nova Iorque, Jorge Colombo diz que, “sob muitos ângulos, Lisboa se assemelha a tantas outras cidades, no entanto há coisas que são só nossas como o pretérito imperfeito usado como imperativo. ‘Era uma bica, se faz favor...’ A textura das pedras, as florestas de antenas, a pachorra dos bairros.” Foram estes ângulos da cidade que tocariam o poeta-engenheiro naval, caso ele andasse por Lisboa neste início do século XXI, que Jorge Colombo captou com a sua objectiva e que agora se pode ver em exposição.
A exposição de fotografia “Lisboa Revisitada” inaugura na quinta-feira pelas 18.30 na Casa Fernando Pessoa (R. Coelho da Rocha, 16 – Campo de Ourique) e fica patente até Abril. Horário: de segunda a sábado das 10.00 às 18.00. Encerra aos domingos e feriados. A entrada é livre.
terça-feira, 13 de Janeiro de 2009