O espetáculo “Círculo Pagão de Ricardo Reis”, em sua essência é simbólico e sinestésico. Foram escolhidas minuciosamente doze poesias relacionadas às doze casas astrais da astrologia e na sua concepção cênica, utilizados os quatro elementos: o fogo, a água, a terra e o ar. A montagem tem como alicerce poemas de Ricardo Reis, um dos principais heterônimos de Fernando Pessoa. Reis, por ter uma formação científica torna suas preocupações atemporais, ao imprimir nos seus poemas suas angústias sobre a efemeridade da vida. O espetáculo é um monólogo dirigido por Eliete Cigaarini e encenado pelo ator Erick Krominski, com direção musical de Juninho (banda Mr. Jingle). Eliete é ganhadora do prêmio Shell e do Mambembe e engrandece o espetáculo. Fernando Pessoa é sem dúvida um dos maiores nomes da poesia portuguesa e a sua obra é vasta. No Jornal da Poesia (http://www.jornaldepoesia.jor.br/pessoa.html) estão cadastradas 1040 poesias do enigmático Pessoa. O heterônimo Ricardo Reis é descrito como sendo um médico que se definia como latinista e monárquico. De certa maneira, simboliza a herança clássica na literatura ocidental, expressa na simetria, harmonia, certo bucolismo, com elementos epicuristas e estóicos. O fim inexorável de todos os seres vivos é uma constante em sua obra, clássica, depurada e disciplinada. Faz uso da mitologia pagã. Segundo Pessoa, Reis mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal e não se sabe o ano de sua morte.
Para os Deuses
Para os deuses as coisas são mais coisas.
Não mais longe eles vêem, mas mais claro
Na certa Natureza
E a contornada vida...
Não no vago que mal vêem
Orla misteriosamente os seres,
Mas nos detalhes claros
Estão seus olhos.
A Natureza é só uma superfície.
Na sua superfície ela é profunda
E tudo contém muito
Se os olhos bem olharem.
Aprende, pois, tu, das cristãs angústias,
Ó traidor à multíplice presença
Dos deuses, a não teres
Véus nos olhos nem na alma.
Ricardo Reis
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