segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Não sei o que ter possa de verdade

Não sei o que ter possa de verdade
Do visto mundo a não-verdade triste
Ou que fruto, na planta em flor, resiste
Desconhecido até à realidade.

Como arco-íris que da chuva atravessa
Terra e céu frescos, após a bonança,
Real ou não, já cruza a esperança
O momento da nossa dor que cessa.

Mas se a dor real como mal é tida
Na esp'rança temos um melhor penhor;
Já que não devia a dor ser sentida,

P'ra procurar o homem tem motivo,
Se o Tempo se mede por idade e dor,
Que os prazeres do Tempo um melhor abrigo.

Fernando Pessoa, Poesia Inglesa, in Poemário, Assírio e Alvim

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