quarta-feira, 11 de junho de 2008

“Crítica Literária” de Fernando Pessoa é o “Livro do Mês” de Junho na Biblioteca Municipal do Barreiro


A obra “Crítica Literária”, de Fernando Pessoa, com selecção e prefácio de Hélio Alves, editado pela Caleidoscópio, é o “Livro de Mês” de Junho na Biblioteca Municipal do Barreiro.
Fernando Pessoa (Lisboa, 1888-1935)Em Junho, assinala-se o aniversário do nascimento do mais consensual poeta português. O poeta nasceu há 120 anos. Poucos escritores serão tão consensuais como Fernando Pessoa. Ainda hoje, 120 anos depois do seu nascimento e mais de 70 da sua morte, surgem textos, interpretações, novos caminhos na sua obra.«Extraordinário poeta e uma das personalidades mais complexas e representativas da literatura europeia do séc. XX.Retraído, com vocação para viver isolado, sem compromissos, sempre disponível para as aventuras do espírito, trabalha desde 1908 até à sua morte, como correspondente comercial de várias firmas.Desde os treze anos escreve poesias em inglês; mas é como ensaísta que primeiro se revela, ao publicar, em 1912, na revista “A Águia” uma série de artigos sobre “a nova poesia portuguesa”. Entretanto, continua a compor poesia em inglês (são de 1913 os “35 Sonnets” e o “Epithalamium”), e em português (segundo o autor, em 1908, “num impulso súbito”, resultante da leitura das “Flores sem Fruto” e das “Folhas Caídas”, de Almeida Garrett, começou a escrever versos nesta língua).Afastando-se do grupo saudosista, ávido de novos rumos estéticos e de fazer pulsar a literatura portuguesa ao ritmo europeu, vai ser um dos introdutores do Modernismo em Portugal, com Sá Carneiro, Almada, Raul Leal e outros.O ano de 1914 fica, na biografia interior do poeta, como decisivo, pelo aparecimento dos principais heterónimos, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Fernando Pessoa chegou a inventar biografias, retratos físicos e horóscopos para os três primeiros heterónimos, a fim de melhor os definir.Em relação aos heterónimos, o Pessoa ortónimo distingue-se por traços peculiares: avesso ao sentimentalismo, as suas finas emoções são pensadas, ou já são vibrações da inteligência, vivências de estados imaginários: “Eu simplesmente sinto/Com a imaginação./Não uso o coração”. Com musical suavidade, em breves poesias de metro geralmente curto, e através de símbolos consagrados (a noite, o rio, o mar, a brisa, a fonte, as rosas, o azul), mais raro de cunho moderno (o andaime, o cais), fiel à tradição poética “lusitana”, e não longe, por vezes da quadra popular, Pessoa exprime ou insinua a solidão interior, a inquietação perante o enigma indecifrável do mundo, o tédio, a falta de impulsos afectivos de quem, minado pelo demónio da análise, já nada espera da vida – ou então os vagos acenos do inefável, o breve acordar da infância, a magia da voz que se cala, mal o poeta se põe a escutar.»In Dicionário de Literatura Portuguesa, dirigido por JP. Coelho, Liv. Figueirinhas, Porto (texto adaptado)«Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.)»Fernando Pessoa, Carta a Adolfo Casais Monteiro, Lisboa, 13 de Janeiro de 1935.

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